sábado, 9 de dezembro de 2006

Gelo em Chamas

Nunca pensei que, com o tempo, as pessoas pudessem se tornar tão amargas. Angústias, decepções, tristezas, irritações... Por que tanta coisa precisa acontecer conosco? Por que tanta coisa ruim acontece às pessoas (ditas) boas?

Seríamos, nós, conseqüências disso tudo? Bem, fenotipicamente, sim. Mas e nossa (boa) carga genética? Nossos “dons” naturais? Nada valem? Nada contribuem para o nosso bem-estar? Há controvérsias.

Fora a miopia que me persegue desde pequeno (e eu só a descobri em 1987), os dentes tortos (herança de meu pai) e uma ou duas coisinhas irritantes, minha genética só me deu alegrias.

Mas a experiência que a vida me proporcionou nesses 34 verões (ou seriam 34 outonos? – bom, não foram nem primaveras, nem invernos, ao menos), teria me matado de tristeza em muitos aspectos. E, assim, as lamúrias vem e vão como água do mar: salgada e torrencialmente.

Sinto-me, às vezes, um iceberg vagando pelo oceano. Frio, pesado, perigoso... à deriva. Mas apenas sua extremidade é visível. Por baixo d´água, é onde mora o perigo: uma enorme e maciça massa submersa a espera de um incauto navegante. Uma tragédia potencial. Um risco de aproximação.

Entretanto, como qualquer iceberg, nem por isso, estou à vista. Sou apenas um inocente bloco de gelo no mar. Gelo esse, que poderia muito bem acompanhar um uísque, uma vodka, ou qualquer bebida destilada (para os cultos); quente, para mim.

“Gelo em chamas”, eu sou. E não tente me entender. Você pode se apegar a mim, gostar de mim, mas nunca vai me conhecer realmente. Não que eu não queira. Nem EU me conheço de fato. Infelizmente, claro. Tenho um certo domínio sobre mim. Isso é importante para não me tornar anti-social, ou um “porre de galocha”. Melhor diria, se usasse o termo “ressaca de galocha”, porque um “porre” de vez em quando é bom.

E nessa frieza latente, fico sorridente, à vista das pessoas. Como o tal iceberg, à deriva no mar (de relacionamentos). Sou belo, se admirado com cuidado. Perto demais eu posso machucar. Por incrível que pareça. É, eu também sei fazer isso. É fácil ser difícil.

Se estou sempre sorrindo, sorte sua, pois ninguém merece conhecer meu mau-humor. Nem eu mesmo me suporto. E desejar isso a você seria, no mínimo, descortês. Por isso, mesmo triste, irritado, tento ser “simpático”. Isso é difícil. Passível de falhas. Mas eu acho que consigo. Por isso você acha que gosta de mim. Pela minha imperfeição. Igual a sua (a perfeição é um saco).

No momento estou assim. E o mundo não precisa saber disso.

Ah! Você me entendeu? Não. Não mesmo. Você apenas leu um texto advindo de um surto criativo, exposto no ciberespaço como uma tatuagem – nem sempre tão agradável.

Chamam de “blog”.

Eu bem que poderia chamar de ficção.

Seria isso... ou não?

(Guilherme Ramos)

(Trechos do que eu poderia tornar mais um texto teatral. Mas será que as pessoas precisam de mais “isso” nas suas vidas?)

1 comentários:

Vida disse...

O veneno dos dias está aí, caríssimo, em cada esquina, em cada prateleira, em cada instante.

O veneno da vida está por toda a parte. Seja vc luz ou sombra, gelo ou fogo, fácil ou difícil.

Todo mundo prova do veneno da vida - não há escapatória - mas só se torna amargo quem o aprova.

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