quinta-feira, 10 de julho de 2014

Conhecer


Definitivamente eu não a conheço. O que pode ser bom, porque não conhecer alguém (pelo menos o suficiente) é não se decepcionar com potenciais defeitos que essa pessoa possa ter. Não conhecer alguém é, antes de tudo, uma mágica curiosidade que nos permite a agradável surpresa de conhecer alguém melhor que nossas expectativas. Não conhecer alguém é navegar num mar com fama de perigoso, mas não se abalar com a opinião dos outros. Só para tirar as nossas próprias – e contrárias – conclusões.

Não conhecer alguém, exatamente como você, é pensar que tudo será o mais maravilhoso possível. Porque de pessimismo, o mundo está cheio. A doçura do otimismo é tão rara quanto água no deserto. O otimismo em conhecer alguém como você pode ser mais do que sequer imaginamos. Pode. E deve ser. É como compor uma música tendo apenas o acorde principal. As possibilidades são infinitas, mas só nosso coração – e nosso talento – poderão diferenciar na criação de uma melodia comum de uma obra-prima digna dos deuses. E agradar unanimemente.

Platonismos à parte é muito bom não conhecer você. Porque conhecer precede conviver; conviver, relacionar; relacionar, surpreender; surpreender, decepcionar; decepcionar, entristecer; entristecer, desistir; desistir, abandonar; abandonar... ah, abandonar não tem jeito. Abandonar é deixar para trás tudo o que se desejou um dia. E isso eu não quero. Com você. Jamais sobreviveria à possibilidade de não ter por você tanto apreço. Tanta admiração. Tanta paixão. Tanto... Amor. Não, amor não. Porque amor necessita de tempo. E de dedicação. Como necessitam as mais frágeis – e belas – flores do mundo.

Meu amor não conhecido - não o amor acusado de ser devastador (isso pode ser até paixão ou loucura de nossas cabeças), mas o amor verdadeiro - é condenado a ser ficção, lenda, poesia, de simplesmente não existir, de deixar de ser “o amor mais que amor”, o amor eros-filos-ágape, o amor maior, maior que nós, maior que o mundo. Esse amor - e tão somente ele - vem com o tempo. Quando as pessoas não criam expectativas. Quando esquecem qualquer tormento. E apenas amam. No acalentar de seus corações. Num conto de fadas mágico e infinito, até que a morte os separe.

Assim como o amor desconhecido pela maioria das pessoas, também é muito, mas muito bom não conhecê-la. Completamente. Apenas o suficiente. Porque amar alguém assim, tão inteiramente, tão desmistificadamente, tão perfeitamente, poderia ser desejo impossível. Não quero isso para mim. Nem para você. Prefiro você como um ideal. Uma meta. Um sonho. Realizável. Na hora certa. No momento certo. Na pessoa certa.

Mas, por enquanto, só é possível conhecê-la nos momentos mais sombrios. E torna-los de maior encanto: usar toda essa força (será que é amor?) para me reerguer. E continuar. E vencer. Porque perseguir ideais é isso: é seguir sempre em frente, sem ter nada a temer. Sem medo do que virá. Acontecer.

Acontece que eu não a conheço. Mas ainda posso me apresentar qualquer dia desses. Afinal, uma musa é uma musa, é uma musa, é uma musa. E você já me conhece muito bem. Sabe do que sou capaz de fazer...

(Guilherme Ramos, 10/07/2014, 12h17.)

Imagem: Google.

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