sexta-feira, 4 de julho de 2014

Inevitável (Fim)


- Tudo bem se você quer ser feliz sem ninguém. Eu prometo que não atrapalho. Até facilito as coisas! Divido a missão. Será menos trabalho para nós dois. - Disse alguém para outro alguém.

Era evidente que ninguém gostava da situação. Mas era inevitável. O fim. Términos de relacionamento são sempre desagradáveis. Para alguém. Para o outro, talvez seja um alívio, mas há sempre um sofredor-mor à deriva, no mar das desilusões. Esse, sim, sofre pelos dois. Sofre pelo mundo. Sofre um pouco mais.

Algumas palavras nunca deveriam ser ditas. Palavras são como a lava de um vulcão em erupção. Destroem tudo a sua volta. Descontroladamente. Exterminam. Extinguem. Vidas.

O sentimento de vazio preenche ambos os lados. Mas alguém sempre fica mais pesado. Esse peso puxa, não o corpo, mas a alma, para baixo e lhe apresenta a um inferno bem particular. Lá, não há sorrisos para fotos, não há lembranças saudáveis, não há momentos inesquecíveis, não há atos memoráveis. Há apenas inferno. Não de fogo. Nem de gelo. Apenas um vazio absurdo e absoluto que cobre o coração partido de luto e o restringe ao silêncio sepulcral.

Em meio ao vácuo, percebe-se a luz fraca e pouco pulsante da esperança. Esperança. De quê? De que tudo irá passar e poderemos recomeçar? Apenas quem sofre sabe da importância do oxigênio nos pulmões nas horas de sufoco. Da necessidade de calor (humano) durante a frieza (humana). Da grandiosidade das cores, na monocromia da vida. Da vida, em si. Viva. Que não se sentia mais.

Devia ser isso, a presença da tal morte. Essa indesejada presença que nos atenta todos os dias, prometendo a paz eterna, em troca da tristeza que nos assola. Tristeza. Decepção. Comoção. Ninguém vive assim e consegue ser feliz. Isso é viver num inferno. O que fazer? Como fazer? Não havia respostas. Havia questionamentos. Havia (ainda) sentimentos. Estando-se só, no Céu ou no Inferno, podemos conversar com nós mesmos.

Desse diálogo interior, (re)descobrimo-nos. Salvamo-nos. De nossas próprias condolências, de nossos pêsames pessoais, (re)surgem os mais sinceros sentimentos. Dentre poucos, destaca-se um inefável, infalível, inegável, que nos faz esquecer tudo e todos que nos causaram mal.

Infatigavelmente, (re)começamos a jornada. O sentimento começa fraquinho, mas vai ganhando força à medida que nos conhecemos. Bem ou mal, é um (re)começo. Temos a sorte disso. A regeneração da alma é lenta, mas a ferida fecha. Cura. Cicatriza. Até que não há mais dor para se (re)clamar.

A dor faz parte de um passado mal passado. Que não precisamos requentar. Deve estar fora do cardápio, pois se encontra com o prazo de validade vencido. Devemos preparar novos sabores e apreciá-los lentamente. Degustá-los. Apropriadamente. Mesmo quando se escolhe fazer tudo isso sozinh@...

(Guilherme Ramos, 02/07/2014, 17h37.)

imagem: Google.

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